(Me deparei com a matéria a seguir, muito bem comentada no Portal
IG. Imediatamente decidi abrir um blog
para postar as notícias da área da Educação e também outras ferramentas didáticas que me
auxiliem, auxiliem outros professores e também aos alunos. Mas como não tenho muito tempo em razão dos trabalhos, serão postados apenas o que eu gostaria que fosse arquivado. Boa leitura ! Segue a matéria:)
Na faculdade, futuro professor gasta maior parte do tempo
com "fundamentos teóricos".
Um professor com poucas oportunidades de aprender a dar aula
é como um médico que não sabe tratar do paciente ou um advogado que não conhece
os caminhos para defender o réu. Mas o que parece tão contraditório é uma
realidade no caso dos educadores. O problema é comprovado por pesquisas,
práticas e maus resultados que são tema de série que o iG Educação publica de
hoje até quinta-feira.
Em todas as etapas de formação, os docentes enfrentam
restrições ao aprendizado do próprio ofício. A universidade reserva a menor
parcela do curso a lições de como, a bibliografia sobre o assunto é
desproporcional à demanda e o tempo de aprendizado dentro da escola – apesar de
previsto em lei – é desviado para assuntos burocráticos.
Para piorar, o modelo pelo qual os próprios professores
aprenderam e que muitos replicam há décadas empaca diante de uma geração
moldada pela facilidade e rapidez de resposta da internet. “A sociedade não
precisa mais de alguém que traga a informação. Isso o computador pode fazer. No
entanto, a sociedade precisa cada vez mais de um mestre que ensine a pensar, a
resolver problemas, a produzir conhecimento. Só que dificilmente o educador
sabe como fazer isso”, resume o professor emérito em Educação na Universidade
de Paris 8 e visitante na Universidade Federal de Sergipe, Bernard Charlot.
Na opinião dele, os problemas de formação são
potencializados pela tecnologia a que os alunos têm acesso, mas continuam sendo
os mesmos. “A questão não é se o professor sabe promover o aprendizado naquele
ambiente, mas se ele tem repertório para ensinar em vez de reproduzir
informação”, diz.
Pesquisas mostram que
o problema começa enquanto o futuro mestre ainda é o aluno. A Fundação Carlos
Chagas analisou detalhadamente os currículos de 94 faculdades de Letras,
Matemática e Ciências Biológicas em todas as regiões do País por dois anos e
concluiu que o “como ensinar” está longe de ser o foco dos cursos.
Em Letras, apenas 5,7% das aulas focavam em “didáticas,
métodos e práticas de ensino”, em Matemática, 8% e, em Biológicas, 10%. Todo o
restante do curso forma especialistas em cada área, explica o sistema
educacional, expõe fundamentos teóricos ou mesmo apresenta “outros saberes”. A
introdução de temas tecnológicos apareceu em apenas 0,2% dos currículos.
Os dados da pesquisa, publicada em 2008, até agora não
geraram mudanças sistemáticas. Dentro de limites genéricos como “fundamentos
teóricos” e “conhecimentos específicos”, as universidades têm autonomia sobre
os conteúdos dos cursos e, como simples orientador, os governos que tomam
iniciativas têm resultado tímido na mudança dos currículos de faculdades para
professores.
No Espírito Santo, a
gerente de formação do magistério da Secretaria de Educação, Tania Paz, chamou
33 faculdades para debater os resultados e propor mudanças. Só 23 aceitaram. Ao
longo de um ano foram nove encontros em que a Fundação Carlos Chagas
participou, mas ao final não é possível dizer se haverá alteração prática.
“Mostramos para eles nossas necessidades em sala, mas dentro das instituições a
decisão é dos coordenadores de curso”, afirma a gerente.
Para ela, a dificuldade na formação é a base da crise
educacional que o País enfrenta. “Fizemos uma avaliação diagnóstica do que era
preciso melhorar no sistema a partir das dificuldades dos alunos e a conclusão
é sempre a mesma: o professor”, afirma, ponderando que o profissional é, ao
mesmo tempo, vítima e reprodutor do problema. "Muitos já escolhem a
profissão por não conseguir aprovação nas carreiras mais concorridas por conta
de uma educação ruim que tiveram e vão perpetuar enquanto não conseguirmos
buscar formas de compensação."
“ A questão não é se o professor sabe promover o aprendizado
naquele ambiente, mas se ele tem repertório para ensinar em vez de reproduzir
informação", professor Bernard
Charlot
O Ministério da Educação também encontrou um problema ainda
anterior aos currículos das faculdades: a falta de livros sobre didática. Um
edital para compra de material aberto de 2008 a 2011 resultou em apenas 100
obras aprovadas, segundo o então ministro da Educação, Fernando Haddad. “Mundo
afora, você vai ver que chega a centenas de milhares de títulos. No Brasil, se
uma pessoa iluminada quiser fazer mudanças num curso de licenciatura, vai ter
de forjar o próprio material”, comentou às vésperas de deixar o cargo, em
janeiro.
Na época, ele dizia que a colaboração do governo federal
seria montar uma prova para professor que seria baseada em didática e acabaria
incentivando a mudança nos cursos. "Hoje, 70% dos concursos públicos para
admitir educadores são feito de questões jurídicas. Está mais para teste da OAB
do que docência", comentava. Até o momento, no entanto, não há anúncio
oficial da avaliação anunciada há dois anos.
Fonte: Cinthia
Rodrigues, Portal iG São Paulo